foto: ©Hildegard Rosenthal
Conrado foi a pessoa mais cuca-fresca e desligada que já conheci. Meu
avô paterno. Viraram folclore na família as cenas protagonizadas por ele e
minha avó, sempre alerta e protetora diante de uma cabeça eternamente nas
nuvens.
Ele dirigia seu idolatrado fusquinha cor de creme e ela, de co-pilota,
quase furava a coxa direita dele com o dedo indicador a cada advertência que
fazia sobre o trânsito e seu “estilo” de conduzir.
Certa vez estavam numa avenida de São Paulo quando minha avó alertou:
- – Conrado, olha o
bonde!
- – Tô vendo, mulher!
- – Conrado, olha o
bonde!
- – Tô vendo, mulher!
- – CONRADO!!! OLHA O
BONDE!!!!
Scriiinch! O desvio foi por um triz, habilidade pura
do meu avô avoado que pensava estar indo o bonde, quando ele estava vindo!
[Hildegard Rosenthal (1913-1990), nascida em Zurique, passou a adolescência em Frankfurt, na Alemanha, onde estudou fotografia com Paul Wolff, especialista do Instituto Gaedel. Veio para o Brasil fugindo do nazismo, e chegou em São Paulo em 1937. Convidada pela agência Press Information para ser fotógrafa em reportagens para veículos nacionais e internacionais, documentou São Paulo, Rio de Janeiro, o interior paulista e cidades do sul do Brasil. Junto com os fotógrafos Militão Augusto de Azevedo (1837-1905), Guilherme Gaensly (1843-1928) e Aurelio Becherini (1879-1939), Hildegard Rosenthal construiu boa parte da memória fotográfica de uma São Paulo que não existe mais — especialmente a São Paulo dos anos 40. Suas fotos permaneceram pouco conhecidas até 1974, quando o historiador da arte Walter Zanini realizou uma retrospectiva de sua obra no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC/USP. Em 1996, o Instituto Moreira Salles adquiriu mais de 3 mil negativos de sua autoria, dos quais a imagem acima faz parte, e que resultaram em um livro: Metrópole (2010). Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/hildegard-rosenthal/]
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