O navegante Beto Pandiani diz que várias
vezes, em suas longas viagens, já sentiu ter velejado vastas distâncias apenas
para cruzar o olhar com o de alguém.
Eu estava finalizando um livro meu, o
“Ilhabela” (Editora Metalivros, 2010), e há meses esperava um chamado da Praia
do Bonete me avisando, enfim, que alguma família resolvera fazer farinha,
prática muito comum há alguns anos e praticamente extinta nos dias atuais.
Enquanto o chamado não vinha, ia explorando
a ilha, fazendo as fotos que completariam o livro. Marcamos uma mini-expedição
à Ilha da Vitória. Embarcamos numa traineira de pesca e, quatro horas depois,
aportávamos nesta que é a mais distante das ilhas que formam o arquipélago de
Ilhabela.
E aconteceu o inacreditável: Dona Dita – uma
das caiçaras mais antigas da ilha – estava justamente, naquele dia,
preparando-se para... fazer farinha! Com seus mais de 80 anos já tinha ido
cedinho colher a mandioca na roça e naquela tarde estava marcada a “forneada”.
Não
me espanta imaginar que fiz o livro para ter a oportunidade de passar
esta tarde dentro da antiga casa de farinha, ouvindo as histórias memoráveis de
Dona Dita. Foi o que pensei ao me despedir desta senhora que havia conhecido
apenas dois dias antes: recebi dela um dos abraços mais ternos que já
experimentei.
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